segunda-feira, 31 de maio de 2010

Exposição Doações do Corpo na Sala Dobradiça

INSCREVA-SE para receber um destes órgãos/obras. Faça o download da ficha e envie para o e-mail zede49@hotmail.com ou entregue na Sala Dobradiça. Serafim Valandro, 643, Santa Maria/RS.

Órgãos/obras disponíveis para doação:


Artérias

Vista da Exposição

Artérias (detalhe)

Cordas Vocais
Esôfago

terça-feira, 25 de maio de 2010

quinta-feira, 20 de maio de 2010

III Ação Artística Doações do Corpo

Dia 19 de maio foi inaugurada a III Ação Artística Doações do Corpo. Serão doados os órgãos/obras: artérias, cordas vocais e esôfago.
Onde: Sala Dobradiça em Santa Maria/RS.
Veja como participar:
Faça o download do edital.
Órgãos/obras
Artérias


Cordas Vocais


Esôfago

sexta-feira, 30 de abril de 2010

A Exposição Doações do Corpo foi indicada ao IV Prêmio Açorianos de Artes Plásticas



A Exposição Doações do Corpo recebeu duas indicações ao Prêmio Açorianos de Artes Plásticas 2009, nas categorias Destaque em Projeto Alternativo de Produção Plástica e Artista Revelação.

A entrega do Prêmio acontece no dia 8 de maio, sábado, às 20h, no Teatro Renascença.
Mais informações no site da SMC http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?p_secao=180

sábado, 12 de dezembro de 2009

Justificativas - Receptores


Órgão: Célula da glia




Receptor: Tche Hostel (Luiz Felipe Zago)
Justificativa: Qual é o lugar do ‘eu’? Se em uma época o fígado era o lugar da verdade dos corpos, e em outra o coração foi o ponto de onde emanava o que de mais essencial poderia haver nas pessoas, vivemos um momento em que o cérebro tornou-se o lugar da consciência. E eu quero a minha consciência – retomá-la, recriá-la, adonar-se dela mais uma vez, hoje e sempre. Quero, por isso, nova(s) célula(s) glia(s), para que nutram meus neurônios, para que deem suporte às suas atividades, para que mantenham cada um em seu devido lugar e para separá-los comedidamente quando brigam. Ser pensante, preciso de mais - e de outras mais - glias para meu ‘eu’ funcionar da melhor maneira possível: para refletir sobre meus problemas e achar claras maneiras de solucioná-los, para racionalizar minhas dores de amor e finalmente acreditar que ele nunca mereceu alguém tão maravilhoso quanto ‘eu’, para ver e crer no óbvio. Nova(s) célula(s) glia(s) para um novo ‘eu’. Melhor(es) célula(s) glia(s) resulta(m) num melhor ‘eu’.




Órgão: Cóclea




Receptora: Larisa da Veiga Vieira Bandeira
Justificativa:
entro na fila de receptores dos órgãos/obras no aguardo da cóclea branca
de membranas de fuxicos
que circunde minha cabeça
feche meus ouvidos
que abafe o barulho ruidoso do externo
que ensurdeça
guarde o silêncio branco e macio
no caracol de cobre e tecido
que vai enrolar espirais
aguçar meus olhos
para ler os sinais
Quero a cóclea visual
quero a cóclea gestual
branca, seca
sem movimentos líquidos
que em seu abraço terno circunde e aqueça
minhas orelhas, cabelos e a base da cabeça
que proteja o compartimento central
e as minhas terminações nervosas
sensíveis e ansiosas
e o órgão de Corti
obra de tecido,
dobra de fios de cobre
linhas, ponto final.




Órgão: Coração

Receptor: Rodrigo Ligabue Braun
Justificativa: Preciso de um coração. Essa é a verdade. Tenho, sim, um histórico de doenças cardíacas na família. Meu avô morreu de enfarto fulminante, minha avó fez duas cirurgias de ponte de safena e meu pai seguiu o mesmo caminho, perambulando por uma UTI. Mas minha necessidade por este órgão segue motivos além dos citados. Não quero um coração saudável para sobreviver, quero um coração novo para viver. Nunca vivi verdadeiramente; sempre com medo da morte, eminente, garantida por meu coração geneticamente destinado ao fracasso fisiológico. Perdi festas, perdi amigos, perdi família, perdi oportunidades, perdi. Hoje, meu coração ainda bate. Em mim. Me espanca de modo cruel. Não tenho vida. Ela foi perdida no momento em que soube que jamais seria uma pessoa verdadeiramente saudável. Um coração novo faria diferença. Me permitiria ser eu mesmo, sem doença, sem sofrimento, sem o peso de um coração orgânico que insiste em me matar. Um coração novo me permitiria ser feliz por não conhecer o meu destino. Preciso de um coração.


Órgão: Estômago




Receptor: Wenceslao Machado de Oliveira Junior
Justificativa Um tubo alquímico. Fluxos circulares a subir e a girar entre linhas que são fugas e penetrações do branco no negro, do negro no branco. Gostaria que me fosse doado este estômago por ser este órgão o lugar corporal onde uma vida se faz outra, onde as demais vidas são amassadas, trituradas numa alquimia que é a da transformação de algo pela sua destruição absoluta; destruição que é criação de energia vital e dejetos a serem novamente postos a disposição do mundo... devires possíveis em outras vidas.
Um outro estômago para triturar imagens em imaginações outras de modo a proliferar vidas... as minhas, outras.


Órgão: Hipófise



Receptor: Leo Maia
Justificativa: A hipófise de uma artista certamente teria de caber todo o universo humano, seria ela o receptáculo das informações, experiências, a ligação final com o metafísico?
Tem como outro nome pituitária, é de lá que vem o leite materno, ou pelo menos o hormônio prolactina responsável pelo crescimento saudável dos rebentos mamíferos.
Mas na verdade meu interesse maior nessa hipófise é a possíbilidade de possuir uma pequena usina de endorfinas sempre ligada, sempre pulsante e com um estoque ilimitado delas, ou será que esta hipófise seria como nós, adicta às endorfinas sendo eu a sua fonte delas, sendo o meu corpo, o meu olhar, meu tato e o meu desejo a sua possibilidade de profusão de vida?





Órgão: Olho




Receptor: Rudimar Baldissera
Justificativa: Estar na fila para receber uma doação. Dura realidade. Ansiedade e sofrimento à espera de que um pouco da saúde seja restabelecida no ato doar-receber. Míope que sou experimento muitas imagens sem foco, esfumaçadas. Imagens que meus olhos captam – mesmo que sempre sejam uma apresentação de mundo que receberá sentido ou não – e adentram sem pedir licença. Basta abrir os olhos e ver-sentir, desde que haja condições físicas para isso. Olhos que, em perspectiva sistêmica, nos permitem acessar o mundo, ler o mundo, atribuir-lhe sentido. No entorpecimento do olhar, o belo e a dor, a luz e sua ausência, a compaixão e a violência, a saúde e a doença, a alegria e a tristeza. Olhar que diz muito da alma saudosa, melancólica, triste, sofrida, mas que também diz da esperançosa, da ansiosa, da feliz, da apaixonada. Diz do ódio e do amor. Nos olhos o “eu gosto de você”. No olhar o reflexo da timidez. Acanhamento, ternura, tesão, fúria e volúpia projetados nos olhos que olham e interpretam almas. Olhos-ligação com o mundo. Olhos de Narciso; olhos de Zeus, de Deus, raio-x; olhos de pai e mãe. Olhos do Voyer que deliciam o que se exibe; olhos da cumplicidade. Olhar de condenação, de admiração, de vida. Também os olhos são vida.
Seja por sua dimensão física ou simbólica, os olhos constituem-se em saúde e/ou doença, em deficiência e/ou competência, em janela aberta da alma para almas ou em cortina de aço que prende, subjuga e cega – a cegueira do não querer ver.
Isso é um pouco do que os olhos são/representam para mim. Meus olhos permitem sentir, ser e dizer muito sem mesmo empregar palavras; são sinceros, mesmo quando desejaria não ser tão verdadeiro.
Por tudo isso meus olhos desejam a obra “olho”. Olhos esses que, mesmo míopes, me permitem ensaiar pinceladas, ler, aprender/ensinar/aprender, permitem o encantamento com as composições, com as colorações e formas.; permitem experimentar o mundo em emoções, sensações, nuances. Olhos que me dão vida e que estaria simbolizada na obra "olho”.




Órgão: Osso

Receptora: Fernánda Ferreira
Justificativa:
Se fosse possível trocar todos os ossos desgastados pela osteoporose de minha mãe fusquinha (sim, fusquinha, pois é velhinha fora de moda mas serve pra toda a família)... Se fosse possível, seria o mesmo que trocar a angústia de um corpo sofrido que já não consegue mais se deslocar sem dor por um novo sopro de vida.
A obra de arte pode sustentar um desejo, uma angústia, uma dor ou uma esperança. A mim resta a esperança de ter em mãos : "ossos". Sejam ossos reais, imagináveis ou artísticos mas quero possuir de forma concreta meu desejo de aliviar o pranto que não é chorado por mim mas é sentido .



Órgão: Ovário





Receptora: Paola Zordan
Justificativa: Preciso de um óvulo para fecundar composições. Ovo, fécula, feto, concepções, conceitos, tudo que não se pega com a mão. Invisível, mas sempre sentido. Sem óvulos não há criação. Só um óvulo-corpo-fêmea-ponto-simples. Sem óvulo não existe paixão. Zero a rolar nas cavidades que só as mulheres têm. Matriz, matéria e mãe. Musa a todo mês, protagonista do que se secreta, a cada lua, ovo em ação, ovulação. A rolar na trompa, brinquedo de eterno retorno. Humores e suas movimentações. Sem óvulos não há exitação. Recebe amores. Incha o útero. Vem e vai. Um óvulo é necessário para que um homem chegue no meu coração.




Órgão: Pele




Receptora: Carolina Sommermeyer
Justificativa: Carolina, 26 anos, com altura de 1,50 m pede para doação a pele. Por sua constituição de hipotonia, comum entre os portadores de Síndrome de Down, mais associado hoje ao seu aumento de peso, que esteticamente fugiria dos padrões de beleza vigentes, poderíamos pensar que ela deveria pedir a doação da hipófise como regulador de um provável aumento em seu crescimento. Porque se deveria querer outra pele? O que faria com que isto fosse necessário não se tendo sofrido nenhum trauma ou queimadura. Ou será, penso agora, que talvez a marca que está em seu abdômen e que denuncia uma cirurgia, ao nascer, de colosctomia poderia ser este fato de se querer trocar de pele? Apagar uma marca, um trauma, uma dor, desde tanto tempo? Vestir uma outra pele como se veste uma roupa nova?




Órgão: Pulmão





Receptor: Camilo Darsie de Souza
Justificativa: Qual outro órgão poderia ser tão importante, para um fumante, nos dias de hoje, se não, o pulmão?
Sim, sei que sou o culpado, o único responsável pela desgraça de meu pulmão, e pior, pela desgraça de pulmões alheios!
Pelo menos, assim sinto-me hoje, já que sou lembrado disso, diariamente, pelas informações que me atravessam, pelos amigos que me interpelam. Mas o que fazer?
Em outros tempos, remotos talvez, fui forte, fui sofisticado, fui vanguardista e, quem diria, atraente também! Mas esses, eram tempos em que pensávamos no presente, no agora.
Assim, tendo negligenciado o futuro, no passado, procuro reverter essa falha, incorporando-me a fila de espera do órgão que, pela lógica, irá me faltar. Com isso, "colonizo" meu futuro a partir do presente, para que tal ação sirva de consolo, já que poderei pensar que fiz algo no sentido de reparar os erros de hoje.
E mesmo que o meu pulmão, aquele, com o qual nasci, continue em silêncio, que não venha a incomodar, resta-me a certeza de ter feito algo, de ter me precavido. Porém, se um novo pulmão eu vier a ganhar, no presente, surge a esperança de que ao olhar para meu novo órgão, do velho eu comece a cuidar antes dele gritar.


Órgão: Rim




Receptora: Vânia Sommermeyer
Justificativa: O rim, importante órgão de filtragem de nosso corpo sucumbiu diversas vezes pelos cálculos renais constantes, principalmente com a presença de "pedras". Em Novo Hamburgo a água se apresenta com altos índices de alcalinidade, fato que aumenta a incidência de depósitos de pedras no rim. Muita água é necessária para o correto funcionamento do órgão, mas neste caso fica a questão: Beber ou não beber? A “água” engarrafada será nosso destino?
Paradoxo quando passamos a comprar água mineral “pura” engarrafada. Também devido à aceleração dos nossos dias a alimentação e ingestão de substâncias adversas aumenta. A água que poderia ajudar na eliminação destas toxinas, corrobora para o aumento dos riscos. Fica a pergunta: nossas reservas de água natural sucumbirão como meu rim?



Órgão: Útero



Receptora: Renata Ilha
Justificativa: Agachada, diante do espelho e das lembranças da vida que percorri, um grito visceral lançou meu corpo para trás. E das minhas entranhas meu filho surgiu. O corpo melado de sangue e vérnix aconchegou-se no calor do meu seio. Seu cordão de vida ainda preso em sua barriga fazia parte de mim, minhas coxas, minhas vagina, minha placenta que nunca foi minha. Enquanto o pequeno ser sugava meu seio, a mão do pai cortou o cordão. Já não pertencia ao meu corpo aquela nova vida. E numa próxima torção, das entranhas desceu a placenta. Eu, ávida feito uma loba parideira, comi essa placenta com os olhos alucinados e famintos. Era a mulher que nasceu em mim devorando a menina que ainda brincava e se assustava diante do mundo. Devorei os fantasmas e o próprio útero, repleto de sangue e energia, útero que nasceu e cresceu para o menino que pari, útero que a aquele parto pertence. Agora meus pés procuram novamente a loba em mim. Ela teima em se esconder dos desejos de conceber e parir um outro ser. Se esconde dos olhos que começam a sentir fome. Quero entregar a essa loba um novo útero para que se sinta renovada e completa para enfrentar o chamado da fêmea. Quero presentear este corpo com as possibilidades ilimitadas que podem surgir do encontro entre o novo útero e a vontade de potência primal.